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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Apelo urgente de Olavo de Carvalho a seus leitores brasileiros


Prezados amigos,

Desde que cheguei aos EUA, em maio de 2005, assumi como dever pessoal, fora e independentemente do meu trabalho de correspondente jornalístico e da preparação do livro A Mente Revolucionária, informar ao maior número possível de jornalistas, intelectuais, empresários e políticos americanos a verdade sobre o estado de coisas no Brasil, a abrangência dos planos do Foro de São Paulo, a aliança entre partidos de esquerda e organizações criminosas, a colaboração ativa e essencial do governo Lula na revolução continental cujas personificações mais vistosas são Hugo Chávez e Evo Morales.
Continuo firme nesse empenho até hoje. Ele consome, de fato, a maior parte do meu tempo.
O objetivo imediato é conscientizar a elite americana da loucura que faz ao dar suporte político, jornalístico e financeiro a organizações latino-americanas de esquerda que, por baixo de uma persuasiva máscara democrática e legalista, conspiram com o Foro de São Paulo para a disseminação do caos revolucionário no continente.
A intenção última, talvez irrealizável mas nem por isto menos obrigatória moralmente e digna do esforço, é atenuar ao máximo o fluxo de uma ajuda bilionária sem a qual a revolução comunista na América Latina morreria de inanição.
Bem sei que, entre os componentes da referida elite, muitos ajudam o comunismo latino-americano de maneira consciente e deliberada, movidos pela convicção pessoal, pela vaidade, pela estupidez pura e simples ou, o pior de tudo, pelas vantagens que assim pretendem obter para a consecução de seus próprios planos estratégicos, de envergadura incomparavelmente mais vasta que os do Foro de São Paulo.
Com essa parcela da elite não adianta nem conversar, é claro. Mas há centenas de organizações conservadoras, leigas, cristãs e judaicas, que ludibriadas por falsa informação acabam permitindo que o potencial da sua boa-fé e os dons da sua generosidade sejam desviados para finalidades que atentam contra seus próprios valores e princípios. Há também órgãos do próprio governo americano, que, induzidos a trabalhar nesse sentido por administrações federais anteriores pró-esquerdistas, continuam, pela força da rotina burocrática, a apoiar aquilo que deveriam combater.
Essa situação anormal e doentia resulta de um trabalho de muitas décadas feito aqui pelo lobby esquerdista internacional, cujos agentes lograram se infiltrar por toda parte, dominando ostensivamente os órgãos culturais do governo e a grande mídia das capitais, e camufladamente atuando até mesmo dentro de organizações conservadoras.
A política oficial do governo de Washington, de dar apoio à “esquerda moderada” na esperança de que sirva de barreira às ambições da “esquerda radical”, é fundada inteiramente em desinformação proposital espalhada há décadas por entidades poderosas como o CFR e as fundações Rockefeller, Ford e Soros. Nos últimos anos, uma crescente onda de revolta contra essas entidades espalhou-se entre a maioria conservadora. Informações longamente ocultadas sobre seus planos e atividades começam a jorrar na mídia conservadora e a ser discutidas abertamente nos think tanks. O momento é propício para mostrar que, entre as inumeráveis mentiras com que essas macro-organizações manipularam a opinião pública americana, havia algumas sobre o nosso país e os nossos políticos. Só para vocês fazerem uma idéia de até onde vai o cinismo dessa gente, o CFR nomeou, para chefe da sua Força-Tarefa encarregada de influenciar a política de Washington para com o Brasil, nada menos do que o sr. Kenneth Maxwell, aquele mesmo que, usando da sua suposta autoridade de “especialista”, tentou persuadir o Brasil de que o Foro de São Paulo nem sequer existe.
Há no Brasil pessoas ambiciosas e iludidas que acreditam poder influenciar o governo americano por meio de contatos diretos com o Departamento de Estado e a presidência da República. Tolice. Primeiro: os EUA não são o Brasil, onde o Executivo pode mudar o curso das coisas a seu belprazer. Aqui, tudo depende de longas discussões, da conquista dos corações e mentes da elite formadora da opinião pública, do exercício, em suma, da democracia. No Brasil, já nem sabem o que é isso. Imaginam que Bush é um Lula de direita. Segundo: tanto Bush quanto Condoleezza Rice podem ser conservadores o quanto queiram na intimidade das suas almas, e não tenho motivo para duvidar da sinceridade de um nem da outra; mas o fato é que são ambos membros do CFR e têm suficiente amor às suas carreiras para não cuspir muito ostensivamente no prato em que comeram. Eles só mudarão a orientação da política de Washington para com a América Latina se sentirem que têm respaldo para isso nos órgãos formadores da opinião republicana. Convencê-los pessoalmente é desnecessário e inútil. Provavelmente já estão até convencidos. O importante é convencer suas fontes de apoio. Ninguém vai conseguir nada com cochichos de gabinete. Isto aqui não é uma republiqueta, onde tudo se obtém pela amizade do chefão. Democracias simplesmente não funcionam assim. O que tem de ser feito é público e aberto.
Contra o trabalho consolidado de centenas de ONGs esquerdistas que aqui operaram durante décadas até obter o controle quase total do fluxo de informações sobre o Brasil na grande mídia, vejo que estou praticamente sozinho. Sozinho e sem recursos. Minha sorte é que (1) nos think tanks conservadores existe agora uma fome de informações autênticas sobre a revolução latino-americana; (2) a grande mídia não é tão grande assim: os conservadores dominam os talk-shows de rádio, que alcançam uma faixa de público bem maior que a dos jornais da esquerda chique; (3) como não estou ligado a interesse partidário nenhum, represento somente a mim mesmo e digo apenas aquilo em que pessoalmente acredito, há nesses meios um número enorme de pessoas que acreditam em mim. Nada tem mais autoridade ante uma platéia americana do que a independência individual (justamente aquilo que no Brasil torna o cidadão um virtual suspeito). Desde que cheguei, fiz várias conferências em think tanks, escolas e congressos, despertando o interesse e a franca aprovação de platéias altamente preparadas, nas quais se incluiam pop stars da mídia conservadora, cientistas políticos de excelente prestígio acadêmico e até subsecretários de Estado.

O momento, repito, é propício. O véu da mentira latino-americana está para ser rasgado, e CFR nenhum poderá impedir que isso aconteça.

Aqui aprendi o que é democracia. A democracia não dá liberdade a ninguém. Apenas dá a cada um a chance de lutar pela liberdade. A gente percebe isso, materialmente, na coragem e disposição de combate com que tantos americanos, hoje, se erguem contra o establishment esquerdista chique e não raro conseguem vencê-lo usando os meios postos à sua disposição pelo Estado de direito. Esses meios estão também ao alcance de quem deseje restabelecer a verdade sobre o Brasil.

Não quero me gabar dos resultados obtidos, mas sei que, na mídia conservadora e nos think tanks republicanos, já quase ninguém mais acredita na mentira idiota de que Lula é um antídoto à subversão chavista. Estou consciente de ter contribuído ativamente para sepultá-la. Mais dia, menos dia, notícias do falecimento chegarão ao governo americano, se é que já não chegaram.

Para isso, usei de todos os recursos com que contava: conferências, artigos, cartas, telefonemas, distribuição de provas e documentos, inumeráveis conversações pessoais. De vez em quando coloco no meu site algumas amostras do que tenho feito.

O problema é que tudo isso custa trabalho, tempo e dinheiro. Normalmente, um esforço dessa envergadura deveria ser obra de equipe. Seria preciso ter aqui uma ONG independente, sem ligação com partidos ou “redes”, com um time de conferencistas, redatores, tradutores, relações públicas e fund-raisers, habilitada a fazer o que todas as ONGs fazem: conferências de imprensa, debates, newsletters, mala-direta, um website atualizado diariamente e publicação de livros.

Não dispondo de nada disso, faço tudo eu mesmo. Não tenho nenhuma ONG pelas costas, nenhum patrocinador, nenhum suporte político ou empresarial. Meu visto de jornalista também não permite que eu trabalhe em empresas locais. Tudo o que escrevo e leciono por aqui, é de graça. A totalidade dos meus meios de sustento consiste no salário que me vem do Brasil e na ajuda de dois ou três amigos, sempre os mesmos.

Não estou me queixando. Estou felicíssimo de poder fazer o que faço. Mas faria muito mais, e com resultados incomparavelmente mais velozes, se tivesse algum respaldo financeiro para isso.

O salário que recebo pelo meu trabalho jornalístico é suficiente para dar à minha família uma vida modestamente confortável no interior da Virgínia, onde tudo custa três vezes mais barato (e é dez vezes mais bonito, confesso) do que em Washington ou Nova York. Mas a tarefa de que me incumbi exige muito mais do que posso gastar. Só para vocês fazerem uma idéia, a primeira coisa que fiz em vista dos meus planos foi dar a mim mesmo um curso abreviado de política americana: história, leis, instituições, grupos, pessoas, correntes de idéias. Logo em seguida, formei um cadastro das entidades que podiam ser úteis para o meu objetivo e tratei de me inscrever em várias delas, para poder freqüentar seus encontros, receber suas publicações, etc. Por fim, iniciei um programa de viagens a Washington para contatos pessoais e conferências. Quanto custou isso tudo? Quanto custa formar, em menos de um ano, um especialista em política americana? Quanto custam centenas de livros, dezenas de assinaturas de revistas e subcrições em think tanks, não sei quantas diárias de hotel e alguns milhares de galões de gasolina? Mensalmente, gastei nisso metade ou mais do meu salário, enchendo-me de dívidas, submetendo minha família a sacrifícios humilhantes e incomodando amigos brasileiros com obsessivos pedidos de socorro.

Cheguei a um ponto em que já não posso continuar trabalhando assim. Ou monto uma estrutura de trabalho capaz de concorrer com adversários poderosos, ou trato de buscar um consolo impossível naquela história do passarinho que tentava apagar o incêndio na floresta levando gotinhas de água no bico. Não quero ficar me vangloriando de gotinhas inúteis. Quero fazer alguma coisa que dê resultado. Quero fazer e sei como fazer. E nada melhor para me ajudar nisso do que as contribuições individuais de pessoas que confiam em mim. Incomparavelmente melhor do que apoios institucionais, empresariais e partidários. Elas são um reforço generoso e livre que em nada afeta a minha independência.

Nos EUA, depender apenas das contribuições espontâneas do público aumenta muito a credibilidade de uma campanha, de um jornal eletrônico ou de uma ONG.

A constituição de uma ONG nos EUA é coisa complexa e dispendiosa. Antes mesmo de chegar a isso, preciso de meios para viajar com mais freqüência a Washington, para publicar uma newsletter, para atualizar diariamente o meu site em inglês, para me inscrever em mais instituições, estender meus contatos para outros Estados, freqüentar mais congressos, etc. etc.

Preciso de ajuda já. Não quis pedi-la antes de chegar ao meu limite. Já cheguei. Por favor, me ajudem a salvar a honra do Brasil. Não quero chegar à velhice extrema pensando que vim de um país que se deixou estrangular sem exercer nem mesmo o direito de espernear. Quero exercer esse direito até o fim, com esperneadas vigorosas que pelo menos deixem o assassino da pátria com uma inesquecível dor na bunda.

Adiei o pedido levando em consideração que a tarefa a que me entreguei foi idéia minha, pessoal, germinada em segredo no meu cérebro maligno, sem pedido ou sugestão de quem quer que fosse. Ninguém, fora eu mesmo, tem a mínima quota de responsabilidade nela. Muito menos, é claro, os jornais que me empregam. Cumpro meus deveres profissionais, vou escrevendo o meu livro e me entrego à devoção patriótica nas horas vagas. Todas as horas vagas.

Bem sei o que essa iniciativa privadíssima pode me custar, se eu voltar ao Brasil. Também sei que, por aqui, meu visto de jornalista me dá direito à permanência indefinida, mas não garantida. Posso ser, de um momento para outro, retirado deste adorável refúgio virginiano, entre esquilos, sapinhos, flores e caipiras, e devolvido direto à toca do lobo, bicho tinhoso que já várias vezes ameaçou acabar com a minha raça. Os riscos da empreitada são portanto consideráveis e, se me sinto autorizado a pedir aos amigos e leitores que a reforcem com seu dinheiro, é porque apostei nela o meu pescoço e a segurança da minha família. Não estou pedindo a ninguém que ofereça mais do que ofereci.

Também não prometo nada, exceto multiplicar o meu esforço na proporção dos recursos que me cheguem. Nunca tive paciência com pessoas que choramingam pedindo que eu lhes dê uma esperança. Minha única esperança é a justiça divina, quando este mundo for desfeito em farrapos. Na existência terrena, a esperança é menos importante do que a fé -- e a fé não significa crer numa doutrina, significa ser fiel a um compromisso. Significa ter senso do dever. Com esperança, se possível; sem ela, se necessário.

Com 59 anos de existência no planeta, cheguei à conclusão de que sou o bicho mais teimoso, paciente e obstinado que já conheci. Deve haver um cromossomo de jumento, de elefante ou de camelo na minha constituição genética. Mas até um desses amáveis animais precisa de alimento e estímulo para cumprir sua tarefa – puxar um tronco, atravessar o deserto, carregar tijolos e gente em terreno íngreme.

Estou pedindo a todos os meus leitores e amigos que me ajudem a fazer o que tenho de fazer. Doações pessoais ainda são permitidas e livres de impostos. Quem tiver sensibilidade e condições para isso, que faça uma contribuição por qualquer destes três meios, à sua escolha:

1) Para contribuições em dólares, por cartão de crédito, simplesmente clique o botão abaixo e siga as instruções (no formulário, em resposta ao item "payment for", escreva simplesmente "donation"):

2) Para depósito bancário em reais – dez, vinte, cem, mil reais ou o que quer que seja –, use a minha conta pessoal do Banco Itaú, agência 4080, c/c 02968-1.

3) Para transferência bancária (DOC), use a mesma conta do Itaú e o meu CPF, 043.909.388-00.

Quem quiser um recibo, que envie um e-mail a olavo@olavodecarvalho.org com uma cópia do comprovante de depósito ou transferência.

Como ainda não tenho uma ONG constituída, isso não dará a ninguém o direito a desconto no imposto de renda nem a qualquer outra vantagem apreciável. Dará direito apenas à minha gratidão e talvez à gratidão da pátria, se esta ainda existir no futuro.

Estou pedindo agora e vou voltar a pedir. Tantas vezes quantas me pareça necessário, pois as despesas não vão parar tão cedo. Agora já me acostumei à mentalidade de um povo que põe seu dinheiro onde põe suas palavras. Aqui, todo mundo contribui para aquilo em que acredita. Eu mesmo, que sou um duro, não escapo. Associações de veteranos, campanhas de evangelização, protestos cívicos, policiais baleados e até uma menininha da Guatemala que não podia comprar seus livros de escola já descobriram que eu existo e aparecem mensalmente na minha caixa postal. Dou um pouquinho, mas dou sempre: toda essa gente trabalha para o bem, e aprendi com os americanos que o dinheiro jamais é neutro – se não serve ao bem, serve ao mal.

Agradecendo antecipadamente,

Olavo de Carvalho

Richmond, Virginia, 20 de junho de 2006

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Diálogo Interior

Pintor: Edvard Munch
Título: Melancolia

por Henrique Alves
São tantas as coisas lindas que ficaram por dizer, que a alma parece sucumbir ao peso do silêncio. Não farei um longo comentário. Aliás, nem mesmo um comentário. Registrarei tão somente a lamentação pela beleza esquecida no caminho e pelo grito sufocado no coração, além das doloridas recordações que se aninharam naquela dobra da alma. E que dizer das noites precariamente vividas em claro e dos dias irrecuperavelmente perdidos na sombra? Minhas estações migraram para um inclemente Inverno de saudades e de improváveis descansos. Há um fluxo de emoções transcorrendo em mim que ultrapassa minha capacidade de expressão. Tudo isso pode ser o resultado melancólico do efeito da chuva que molha o mundo lá fora. Mas o fato inapelável é que também cai, bem aqui dentro de mim, uma chuva que traz consigo um espírito de descontinuidade, fazendo a vida quebrar-se em pequenos grãos. E não há como juntá-los; talvez, quando essa chuva passar eles se reorganizem espontaneamente. Vou esperar pra ver, porém duvido de que algo de bom nasça dos destroços em que me tornei. Ninguém nunca saberá o que flutua em meu oceano interior; as dores incontidas; as mágoas retalhadas e os cantos esquecidos. Algo que vai muito além do meu entendimento se avoluma em torno de mim e toma de assalto meus reservados escrúpulos sem que eu possa mesmo reagir. Queria ter a coragem de Cyrano de Bergerac para ao menos morrer de pé. Será que conseguirei? Tenho cá minhas dúvidas. Ouço um cisne que canta e um sino que dobra, sinais indisfarçáveis de um fim iminente. Como terminará essa curiosa e louca história? Tente uma resposta. Estou tateando em busca da minha. Por agora, contemplo a escuridão e dialogo com meus silêncios. É o bastante para quem já sofreu as dores de meio mundo.

Henrique Alves

domingo, 23 de janeiro de 2011

Por que não sempre?

por Henrique Alves


Pintor: William Adolphe Bouguereau
Tema: Dia dos Mortos
Ano: 1859


AGORA

Se queres dar-me uma flor;
Dá-me antes que eu morra...
Se podes hoje fazer o milagre
De um sorriso num rosto que chora,
Não coloques flores sobre tumbas;
Se queres dar-me uma flor, faze-o agora.

Se podes dar um lar ao orfãozinho,
Abrigo ao pobre que geme lá fora,
Não encolhas a mão - Deus está vendo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.

Se conheces o Eterno Caminho
Que leva ao templo onde a alegria mora,
Não guardes, egoísta, o teu segredo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.

Se podes dizer uma frase linda
Algo que faça a tristeza ir embora,
Dize-a enquanto posso agradecer sorrindo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.

O que farei das orações, das flores
Quando do mundo eu já não mais for?
Aos pés de Deus eu as terei tão lindas
Que não precisarei do teu amor.

Não esperes o instante da partida:
Se podes me fazer feliz, faze-me agora.
Para que chorar de remorso e saudade?
Custa tão pouco a felicidade:
Dá-me uma flor antes que eu vá embora.

Myrtes Matias

A Myrtes foi uma das pessoas mais doces que conheci. Um dos momentos mais poéticos e inspirativos de minha pobre vida foi quando, na minha adolescência, numa pequena sala de um prédio em Niterói, ouvi essa terna poetisa declamar Agora. Foi mágico; arrebatador; absurdamente etéreo. Sempre tento voltar àquele dia. Ela estava emoldurada por um ramalhete de flores e trazia uma rosa presa aos delicados e expressivos dedos. Voz mansa, quase sussurrante, meio suplicante, enfim, um anjo.

Hoje ela é anjo de verdade. Tem todas as rosas aos pés Daquele por quem viveu. Em restrospecto, gostaria de ter-lhe oferecido flores. Mas em minha egoísta solidão adolescente nem dei por isso. Apenas fiquei ali, olhando, sabendo que alguma coisa tinha acontecido em mim, que me mudara, me redesenhara, me matara e fizera reviver. Tudo naquela tarde, naquela sala, naquele momento. Myrtes não sabe, mas despertou em mim o desejo de ser melhor. De fazer as coisas certas. De respeitar os sentimentos dos outros e, do nada, bem do nada, oferecer flores de atenção, carinho, ternura. Ensinou-me a me negar para não magoar; a deixar de lado o mórbido prazer de me divertir com as caras e bocas daqueles a quem manipulo. Curioso é que só compreendi isso numa espécie de anamnese. Tive de desentranhar aquele dia dos arquivos da mente e desdobrá-lo como um mapa numa mesa de campanha. Fui seguindo a linha tracejada até dar no ponto maculado de vermelho, bem no meio do mapa. Vermelho das rosas, das vergonhas pelo que me tornei e do sangue derramado por mim em nome do prazer de me satisfazer.

Acho que talvez existam mais rosas hoje do que havia no tempo de Myrtes. Mas quem as recebe? Quem as dá? Onde vão parar que não as vejo por aí? Nas entoalhadas mesas de jantares sofisticados? Em sepulturas de quem, em vida, jamais sentiu o aroma de uma flor? Ou nos salões de mansões onde não mora a felicidade? Sei não! Só sei que não as vejo. Aliás, faz muito tempo que não vejo uma rosa. Nunca ganhei uma. E como gostaria de recebê-las! Nâo só rosas. Mas igualmente ternura, aconchego, ombro, sorrisos nos olhos, acenos complacentes, e só um pouco mais de compreensão. Não foi Cartola quem disse que as rosas não falam? Pois falam sim, seu Cartola! Falam de amor, de ternura, de cuidado, de pequenas coisas que fazem da vida uma estrada mais suave de ser palmilhada. Por favor, dê-me uma rosa antes que eu vá embora!

henrique alves